quinta-feira, 22 de agosto de 2013

SENHORINHA

  Tonico estava furioso.Não aguentava mais ser chamado de anãozinho, mas ele era anão,com altura de 1,20 cm no máximo. Renegava seu nome sim, dizia que se chamava Antônio pois: -"Onde já se viu? Tonico é nome de anão"! É, ele não se conformava. A primavera sergipana na gostosa cidade de Itabaianinha, que apesar das flores perfumadas, das arvores frutíferas cujo cheiro doce inebriava as ruas,da brisa refrescante a atenuar o calor, dos dias com céu de um azul límpido e das noites adornadas com coruscantes estrelas a salpicarem na abóboda celeste, seu humor não mudava:
  -Itabaianinha! Isso lá é nome de lugar? Vô juntá dinheiro e ir pra Itabaiana, que tem pelo menos nome de cidade e não esse nome de lugar pequeno e além do mais, aqui tem muito anão! Quero também casá com mulher que tem tamanho de gente.
  Ele realmente não se assumia. Se enxergava com 1,70 cm. Queria ser grande. Seu apelido era zangado é, o mesmo dos sete anões, mas ai de quem o chama-se assim:
  -Olha, eu só não te chingo do que você merece porque se meus pais não me deram tamanho, pelo menos educação eles me deram. Agora, soco que vem de baixo pra acima acerta com mais força, qué vê?
  Ninguém queria. Por incrível que pareça, o que faltava em estatura sobrava em bravura. Ele podia até apanhar um pouco no começo da briga mas era tão forte que quando acertava um murro, derrubava, pegasse onde pegasse. Acertando na perna, o desafiante não ficava mais em pé, no braço, o mesmo rolava de dor, na cara ou na cabeça o homem apagava sim, ia a nocaute, agora, se o golpe pegasse lá... lá mesmo onde você está pensando, huuuu..... nem se fala! BB, este apelido ele gostava por que ele era o bom de briga, mas pelas costas diziam: "BB é baixinho brabo".
  Naquele princípio de noite, um acontecimento mudaria a vida de Tonico para sempre. Ele fechava sua oficina de marcenaria sozinho- pois seu ajudante precisara sair mais cedo- e se preparava para ir para casa, sem nem sequer desconfiar que três homens o aguardavam na esquina, movidos é claro, por más intenções. Cientes da fama de brigador de Tonico, quiseram tirar isso a limpo, afinal, eles eram os valentões de Itabaiana e as histórias do anão bom de briga tinham chegado pelas bandas de lá. Os três tiveram a pachorra de sair de Itabaiana, passar por Lagarto, depois sul de Simão Dias, por Tobias Barreto até chegar a Itabaianinha, comentando entre si:
  -Pode não! Anão, sem tamanho nenhum, bater mais forte que a gente? Vamos acabar com essa fama! E lá estavam e ali começaram:
  -E ai, fiote de mico mais grilo, tamanho menor que cria de esquilo!Ah ah ah ah ah! Queremos ver se tu é bom mesmo, mas só se bater em nós três, quero ver. Não viemos com arma não, pra ver se tú é mesmo valentão, valentão? Só se for valentinho, bem piquinininho, qui dó! Ah ah ah ah ah!
   É... Só que você que esta me dando a honra de ler esta história nem sabia do que Tonico era capaz e te confesso que nem eu; por que estou inventando essa história nesse minuto e nem sei o que vem pela frente; nem os três trouxas, trouxas sim, pois não sabiam com quem mexiam. Aquele pequeno projeto retesado em músculos e desenvolto em agilidade não disse palavra: De um salto puxou a perna direita do primeiro e enquanto ele caía, deu com o cotovelo no lado esquerdo  do joelho dele, quebrando-lhe a perna na hora; os dois outros que não esperavam essa reação, que mais parecia uma cena de "Chuck, o boneco assassino", ficaram meio que em choque. É claro, valentão que põe medo em covarde não está muito acostumado em ser atacado tão rápido e ainda mais por um nanico ops, que Tonico não me ouça. Só que o Chuck, bom quer dizer, o Tonico, nem tomou conhecimento disso e acertou a genitália, huuuu, do segundo e enquanto ele ia se contorcendo, o pequeno deu um salto preciso e espetacular, acertando, com um murro certeiro a ponta do queixo do terceiro que desabou sem sentidos. O que levou um soco no ssss... ou melhor, na genitália já se recuperara um pouco e partiu pra cima dele pois, o companheiro com a perna quebrada não tinha a mínima condição de combate. Pois bem, ao ser atacado, o anão rolou por debaixo das pernas do brigador grandão e apoiando as mãos no chão, deu com os dois pés nas nádegas dele jogando-o de cabeça no muro, no que o idiota caiu desmaiado com a testa sangrando. Mas a raiva do pequenino zangado não passava e ele correu rapidamente, reabriu sua marcenaria, entrou e saiu com um porrete de peroba para acabar com o primeiro, que rolando no chão, tentava massagear a perna quebrada. Foi ai que se ouviu um grito:
   -Não!
Tonico se virou para trás, buscando a origem daquele grito e depois de tantos anos que ele mastigava ódio, se enterneceu. Seus olhos nunca tinham vislumbrado coisa tão linda. Era uma pequenina ou mais especificamente, 1,10 cm  de mulher tão bela e formosa que ele ficou com a boca aberta, largou o porrete pesado deixando por descuido que aquela arma improvisada cai-se no seu pé: -Aiiiii! Pulava ele num pé só, segurando o que doía. De fato ali estava um anjo ou melhor, um querubim feminino se falarmos em estatura. Cabelos louros, sedosos e ondulados, nos quais o foco de luz da rua denunciava brilho especial, sobrancelhas douradas e bem feitas acima de cílios da mesma cor, denunciavam a naturalidade do tom dos pelos, sem a mínima necessidade de qualquer tintura, olhos verdes como duas esmeraldas cintilantes falavam da cor da esperança no amor, nariz ligeiramente arrebitado, boca carnuda coberta por gloss escarlate, corpo bem torneado e perfeito acinturado e coberto por curto vestido amarelo em tom discreto, mostrava pernas bem torneadas apoiadas em lindos pezinhos com primorosos dedinhos, descreviam aquela "Barbie falante" pela qual o nosso micro herói se apaixonara ali, perdida e irremediavelmente.
  Ela correu até ele, tirou-lhe o calçado e começou a massagear-lhe o pé:
  -Senta no chão um pouco, disse ela e assim que ele se sentou, a pequena foi aliviando o pé de Tonico com o toque de suas mãozinhas. Parou de doer? Dizia ela enquanto massageava o pé do projeto de gladiador, no que o mesmo respondeu:
  -Ééééé...não respondeu nada. Estava era de boca aberta, praticamente babando.
   -Pelo jeito a dor já passou, disse ela largando o pé dele, agora se calce que eu vou ver o que posso fazer por essas três bestas,disse ela.
Finalmente, conseguindo articular a primeira frase para ela o pequeno disse:
  -Você tá preocupada com esse trouxas aí?
  -Mas é lógico, são meus irmãos, né?
  -Sesesesese seus...gaguejou ele.
  -Ta ta ta, não precisa acabar a frase, pois afinal, família a gente escolhe por acaso? Venho seguindo eles desde Itabaiana, que é a nossa cidade. Na verdade já tô cansada deles por que sou eu quem resolve as encrencas.Agora é melhor você ir. Vou ligar pra uma ambulância e vão fazer perguntas. Você pode ser acusado.Vamos, vá, vá embora logo ou você ainda vai bater mais neles?
Tonico mau entendia o que ela falava. Agora já babava literalmente, e em pensamento viajava: -Que voz aveludada, que hálito fresco, que perfume doce. Nunca, mas nem em sonho, ele ficara daquele jeito, completamente de quatro por uma mulher, ainda mais por uma anã. Ele nunca tinha namorado uma. Não gostava de mulher pequena ou você que está lendo não sabe que a performance de bom de briga não lhe rendia algumas garotas grandes? Se viu então, entrando em sua marcenaria para guardar o porrete, com sua mente em sonho, pisando em nuvens. Ouviu a sirene, o barulho do motor da viatura, as vozes da equipe da ambulância, a linda pequena dando detalhes do acidente omitindo a culpa do nanico lutador e quando o carro partiu é que Tonico se deu conta que ela fora embora junto. Ele despertou daquele torpor e correu para fora da oficina mas já era tarde. A mini beldade se fora. Foi então que ele se viu em desespero. Não a veria nunca mais? Não sabia nem o nome dela! Correu ao pronto socorro da cidade, mas não sabia nem o nome daqueles três e nem o dela. Percorreu os corredores da emergência e nada. Foi para casa, deitou mas não dormiu, revirou-se no leito até amanhecer.
  No dia seguinte saiu pela cidade a perguntar, foi ao pronto socorro de Itabaianinha e não haviam dado entrada lá. Com aquelas características não, uma anã loura e três homens. Ninguém sabia. Foi ai que a necessidade fez com que ele se impusesse em uma busca. Iria a Itabaiana e acharia aquela que já era a razão de sua intranquilidade. A vontade de revê-la tornara-se agora uma obsessão. Empreendeu então uma viagem à cidade que ela havia mencionado. Curioso, era a cidade na qual ele queria um dia morar! Quando chegou, a primeira coisa que fez foi procurar o hospital da cidade. Nada encontrou, então saiu a perguntar, no que não teve a minima dificuldade. Só havia uma anã loira que morava ali:
  -Olha, pelo seu tamanho eu acho que você não devia procurar ela não, hein! Ela tem três irmãos que são só enguiço. Brigam, batem  pelo gosto de serem os tais, disse o rapaz da banca de jornais, no que Tonico retrucou:
  -O negócio é o seguinte, e não acabou de falar, engoliu o nervoso pensando:-Eu conheço ele pra ele reparar no meu tamanho? Ah que vontade de partir-lhe a cara! Dissimulou, afinal precisava daquela informação e assim completou a frase mudando o tom de voz, por favor, onde eu a encontro?
  -Vai por aquela viela ali que é fácil, é uma casa amarela com emoldurados brancos que tem um belíssimo jardim de frente. Ela pessoalmente é quem cuida do jardim.
Uma ponta de ciume brotou em Tonico:-"Que elogio era aquele? Ele estava interessado nela por acaso"?       Pensando assim, despediu-se do jornaleiro com um obrigado lacônico e de cara amarrada.
Chegando em frente a casa amarela que era realmente primorosa tanto no acabamento quanto no jardim, tocou a campainha, quando apareceu uma senhora na porta de entrada:
  -Quem é você?
  -Eu procuro uma moça que mora aqui!
  -E essa moça tem nome?
  Ele ficou constrangido mas como além de músculos também tinha esperteza disse:
  -Fiquei devendo um dinheiro a ela mas esqueci o nome.
  -Olha moço, não sei quem você é mas se você fala a verdade ela esta no pronto socorro. E a propósito ela não tem amigos anões. Bom, é lá que ela está e me dá licença que tô muito ocupada.
  -Desculpa dona mas eu fui até lá e não os encontrei!
  -É claro,ela tinha que comer! Lá eles não servem comida pra os acompanhantes. Se você viesse meia hora antes, ia dar de cara com ela voltando pro hospital por aquela rua ali ó. Meus filhos tão de alta sabe e, peraí, você é o anão que bateu neles? Ela me contou, viu! Como você tem ousadia de vim aqui? Foi para dentro de casa e voltou com uma espingarda. Passa fora daqui anão atrevido senão eu descarrego isso em você.       Apertou o gatilho mas a arma não atirou porque estava a muitos anos sem uso e enferrujada. Tonico que não era bobo, não esperou ela engatilhar de novo, saiu em disparada com suas engraçadas pernas curtas.
  -Tonico! Não me olhe assim, com essa raiva toda. Você tem pernas curtas mesmo e sou eu quem está escrevendo a tua história e vou te fazer um final feliz! Não bate em mim não poxa!
  Ele então, parou de olhar pra mim e seguiu novamente para o pronto socorro e chegando lá, seu coração começou a dar saltos. Ele a viu majestosa, maravilhosa aos seus olhos apaixonados, trajada num vestidinho parecido com o da outra noite mas em tom vermelho vivo. Ela ia à esquerda de uma cadeira de rodas em que estava aquele que ele havia quebrado a perna, com a mesma esticada para a frente e engessada, outro ia ao lado dela com uma bandagem na testa e o terceiro com uma faixa enrolada do queixo à cabeça-havia quebrado a mandíbula-, esse urrava de pavor ao avistar Tonico e o da perna junto com o da cabeça gritavam em uníssono:
  -Socorro, tire a gente daqui! Esse Chuck veio pra terminar o serviço!
Já a pequena correu até ele abordando-o:
  -O que você quer mais? Eles já aprenderam a lição e agora você vai fazer o que? Sapatear em cima deles? Eu vi o sangue em teus olhos quando levantou aquele porrete para bater nele; e ela apontou para o da cadeira de rodas; e se não fosse meu grito, ele estaria além de com a perna quebrada com traumatismo craniano também! É o que você quer agora? Sai daqui, você não sofreu nada e ainda se vingou! Chega né?
  Tonico pensou rápido. Não podia perdê-la de vista ou sabia-se ser infeliz para o resto da vida. Sendo o único marceneiro em léguas de distância possuía uma vasta clientela e, além do mais, ninguém ousava lhe dar calote portanto sempre tinha um bolo de cédulas no bolso. Puxou as mesmas e as estendeu para a musa de seu coração:
  -Toma, é para as despesas com eles. Estou arrependido de ter feito isso e quero reparar o que eu fiz;mentira, o que ele queria mesmo era acabar com aqueles trouxas, mas trocava ali todo o seu ódio pela possibilidade de tê-la ao seu lado; mas ela empurrou a mão dele dizendo:
  -Graças a Deus, a gente tem dinheiro pra tratar desses bebezões ai, tanto, que eles não trabalham e vivem pra enguiço. Mas não te interessa porque é assunto de família, agora se é por falta de adeus, adeus! E deu-lhe as costas e que costas, inebriava-se ele.
  Uma assistente social daquela clínica observara toda aquela conversa, além de ter ouvido antes da boca da própria anã, os pormenores do acontecido. Como já conhecia aquela família de tantas vezes que os três davam entrada ali depois de brigas, aconselharia a pequena, ao procurá-la depois, a dar uma chance àquele anão tão cordato e arrependido. Na verdade essa assistente que tinha um nome curioso: "Senhora", sim, esse era o prenome dela que uma vez, contara ter seu pai escolhido tal denominação por amá-la tanto, que lhe daria como que uma alcunha sob a qual ela seria respeitada desde o nascimento. Devo acrescentar que a pessoa de Senhora era por demais romântica e não deixaria aquela história de amor passar em branco, cuja sensibiliade lhe falava ao coração que os dois tinhama sido feitos um para o outro. Além de tudo, aquele anão, vindo de Itabaianinha até ali, acometeu-a de um lampejo sensorial e sem motivo aparente, ligou aquele pequeno a um caso acontecido com aquela pequena. Viu que ele estava perdido e desamparado ao ver sua amada partir. Foi então que aquela sensibilíssima assistente social o abordou:
  -Com licença, permita que eu me apresente, sou Senhora, assistente social desta instituição e acho sinceramente que posso ajudá-lo e muito!
  Tonico, que era muito desconfiado, mas talvez pela necessidade de sua paixão ou mesmo por aquela abordagem tão delicada e educada, olhou para cima, para o rosto de Senhora e disse:
  -Estou tão desesperado que se a senhora ops, não é sarro não, desculpe;ele também sabia ser educado;se conseguir me aproximar dela, te dou esse dinheiro, e estendeu as cédulas à assistente social. "Caramba, de novo ele querendo dar dinheiro! Se da próxima vez ninguém pegar, eu pego, oras!-disse eu hã....pensei tão alto que escrevi, desculpe.
  -Primeiro, não quero seu dinheiro; disse Senhora; segundo, não se importe, já me acostumei, também com um nome assim não é? Mas o que eu quero te dizer é o seguinte, o rosto da Taninha não lhe é familiar?
  -Olha, eu vou te dizer uma coisa estranha já que a sen..., a moça me perguntou. Eu não sou gay hein, mas tenho um ajudante de marcenaria que eu gosto muito dele, assim como se fosse meu irmão de sangue. A gente se dá muito bem e sabe de uma coisa, ele é a cara dela. Eu já bati em uns caras que disseram que ele tem cara de moça, mas ele é macho igual eu mas diferente de mim, é de boa paz. Já até bati nuns trouxas que chamaram eu de zangado e ele de feliz e ah sim, ele é anão com eu e a Taninha, ai; gemeu ele; esse é o nome dela...?
  -Puxa! Você está apaixonado mesmo, hein, e olha, tem umas coisas que acontecem comigo, não sei porque. A verdade é que eu percebo coisas sem ter as idéias do que sejam e as minhas suspeitas sempre se concretizam. Tenho até apelido de mãe Dinah, veja só!
  -Fala quem é que te chama de mãe Dinah e eu quebro a cara dele!
  -Calma sr., como é teu nome mesmo?
  -Antônio; ele pensou melhor e disse: Tonico ao seu dispor. Sabia que se mentisse ali não teria a menor chance de chegar até Taninha.
  -Pois bem, não está na hora de mudar, sr.Tonico? Olha a encrenca que o sr. causou e ainda corre o risco de ficar sem sua amada se continuar agindo assim!
  -Ah, isso não...E aquele micro-valentão que praticamente nunca chorara, chorou e chorou muito.
  -Ai,ai,ai,ai toma esse lenço que tudo tem jeito, é só ter vontade. O fato é o seguinte, estamos talvez, prestes a resolver um mistério de quinze anos atrás. A Tânia, que chamamos carinhosamente de Taninha, não é irmã daqueles lá, é adotada, agora, outra pergunta, por acaso seu amigo fala inglês?
  -Nossa! A senhora, desculpe, é mãe Dinah mesmo hein? Como sabe que faz três anos que ele voltou da Inglaterra? Um casal de anões de um circo inglês adotou ele e o levou pra lá. Deixaram que ele volta-se por que ele quer reencontrar a irmã que ele deixou num orfanato. E esse meu amigo me contou, que os pais adotivos dele não levaram ela por que ela estava na época muito doente e eles queriam filhos com saúde, então só levaram ele. Isso aconteceu quando ele tinha cinco anos e ele lembra de tudo, incrível, não? Ele não gostava de circo e eu não sou só bom de briga não viu! Sou curioso e sempre estudei, inclusive sou bom em inglês. Estudei, arrumei bom empregos, engoli muito sapo mas quis uma coisa minha e montei a marcenaria. Agora trabalho por conta e não engulo sapo de mais ninguém. Tiago apareceu, esse é o nome dele, e porque ali, só eu falava inglês fluentemente, nos simpatizamos de cara ele está trabalhado e morando comigo. Mas olha, eu não sou gay não viu!
  -Relaxa rapaz. O jeito como você olha pra Taninha não deixa a menor dúvida disso. Agora, eu tenho uma notícia maravilhosa pra te dar!
  -Já entendi disse ele quase gargalhando, a Taninha e o Tiago são irmãos gêmeos!
  -É isso mesmo, e ela procura por ele a vida toda. Ela me contou que mesmo tendo cinco anos na época, lembra de tudo. De como seus pais biológicos morreram de malária e a caridade pública os recolheu a um orfanato. De como ela de tanta tristeza enfraqueceu e pegou pneumonia. De como ela quase morreu quando soube, internada numa clínica pediátrica , que tinham levado seu irmão embora. Desde então ela conta a mim chorando, que nunca será feliz a menos que reencontre Tiago, sim, ela não esqueceu o nome dele!
  -É por isso que o Tiago fala do nome da irmã que ele nunca esqueceu e eu nunca entendi o nome direito por que ele fala com sotaque!
  -O destino está interligando a todos Tonico, agora é só trazer Tiago aqui e tudo se resolve, pois eu duvido que fazendo isso, você não conquiste de uma vez o coração da Taninha.
Os dois se abraçaram felizes,  mas a cena mais feliz foi a dos gêmeos se abraçando quando se encontraram.   Ficaram chorando abraçados por dois intermináveis minutos. Tânia também sabia inglês mas não era tão fluente e Tiago, emocionado, não conseguia articular nada do pouco português que aprendera convivendo em Itabaianinha, mesmo com a ajuda de Tonico. Dai em diante foi tudo se encaixando. Com a ajuda de Senhora e de Tiago, foi fazendo amizade com a família adotiva de Tânia. Montou sua marcenaria em Itabaiana deixando-a aos cuidados de Tiago, sob os conselhos de Senhora que lhe sugeriu:
  -Tonico, você tem um bom dinheiro guardado, também é formado em edução física com especialização em lutas marciais, sua fama de brigão já é comentada por aqui. Abre uma academia de luta, pelo menos você canaliza essa agressividade, traz os irmãos adotivos da Taninha como seus aprendizes e depois como seus assistentes e eu aposto, quando aqueles três vagabundos começarem enfim a trabalhar e no que gostam, o coração de Taninha será seu definitivamente, mas por favor, confie no tempo e tenha paciência, eu sinto que ela também gosta muito de você, mas tem medo de relacionamentos. Foi muito magoada antes e é muito sensível. Eu vou te ajudar mas não a assuste e para de fazer essa cara que eu já conheço bem, de querer ir atras de quem magoou a Taninha. Mantenha o foco, trabalhe essa agressividade, rapaz!
   E assim, tudo se resolveu. Tonico montou a marcenaria em Itabaiana e colocou Tiago como responsável. Abriu uma espaçosa academia e com a ajuda de Senhora, convenceu aqueles três a aprenderem a lutar com ele, no que eles descobriram que além de bom de briga Tonico era também excelente professor. É claro que com a orientação da assistente social, a mesma e Tonico, passaram a compartilhar momentos de diversão. Sempre saiam juntos, pois Senhora não tinha namorado. A cada programa divertido a já amiga de Taninha contava à bonequinha loura o quanto Tonico era divertido e generoso. Tonico, por sua vez, tratava Tânia com descrição, sem demonstrar muito interesse. Isso foi criando nela uma onda de ciúmes, que quando se deu conta, de tanto a amiga insistir perguntando para ela  porque tanta tristeza de uns tempos pra cá, Taninha, pedindo desculpas por achar que Senhora já namorava com ele, confessou estar completamente apaixonada por Tonico. O plano foi coroado de êxito. Senhora então disse, estando em sua casa, pois Tânia tinha ido até lá desabafar com ela:
  -Como você é boba, lindinha, nós não estamos namorando não! Basta um telefonema meu e você vai ver o que acontece.
  Senhora ligou para Tonico. Ele se preparou, comprou um ramalhe de rosas vermelhas, as preferidas de Tânia e foi à casa de Senhora. Tânia não tinha a menor dúvida, não tinha mais forças para negar, amava Tonico com toda a sua emoção. Cheirou as rosas, Senhora as tomou das mãos dela e disse:
  -Fiquem à vontade que eu vou arrumar um vaso.
  Es os dois se entregaram em um beijo terno e com a fome de uma grande espera. Namoraram, noivaram, casaram-se.  Senhora foi a madrinha, o padrinho foi um dos irmãos já não mais brigões ou melhor, brigões sim, mas com o excelente treinamento de Tonico, brigavam agora por cinturões do MMA. O outro dos irmão de Tânia, foi o que a levou ao altar pois o pai adotivo já tinha falecido. Esses então compadres ou seja, um irmão brigão e Senhora, já haviam se olhado antes mas Senhora não dava a menor chance para vagabundos e não era pra menos. Contudo, agora empregado como lutador, se igualara a ela como lutadora das causas de seus assistidos no serviço social. Senhora e o irmão de Tânia engrenaram então um namoro com grandes expectativas de futuro. Tânia engravidou, o que causou o furor de todos os amigos e de toda a família. Uma bela menina nasceu e o casal não teve dúvidas, o nome de batismo da primogênita seria o daquela que era então a deusa da vida de todos, mas ela era tão pequenininha que aqueles pais a batizaram com o pitoresco nome de Senhorinha.